Saberes do mar: projeto valoriza e forma novas gerações da cultura pesqueira na Região dos Lagos

Pescando Tradições oferece módulo sobre confecção de artesanato e biojoias para turma de pescadores locais, neste fim de semana (1 e 2) em São Pedro da Aldeia

 Buscando valorizar os saberes tradicionais da pesca artesanal, cultura, modos de vida dos pescadores e promoção de sustentabilidade, o projeto Pescando Tradições, realizado pelo Instituto Burburinho Cultural, em parceria com a Associação dos Pescadores Artesanais e Amigos da Praia da Pitória (APAAPP), oferece, neste fim de semana (1 e 2), o módulo ‘Capacitação em confecção de artesanato e biojoias” para os pescadores participantes da iniciativa. Essa fase contará com artesão profissional para capacitação na confecção de biojoias. O módulo terá pelo menos 16h.

 Com atividades acontecendo desde o primeiro semestre, os módulos são voltadas para pescadores artesanais da Região dos Lagos, de forma 100% gratuita, com utilização da Lagoa de Araruama para o aprendizado, presença de mediadores e intérpretes de libras, contando com o curso como produto principal, o intercâmbio e a adequação das embarcações. O curso tem carga horária total de 206h e vai promover a habilitação de 40 pescadores(as) em pesca artesanal como cultura tradicional no território de São Pedro da Aldeia (30h), pesca artesanal como profissão no território de São Pedro da Aldeia (160h) e capacitação em confecção de artesanato e biojoias (16h).

 A iniciativa, que encerra as atividades em dezembro, também realiza um intercâmbio com duração de 10 dias entre pescadores da Costa Verde e Região dos Lagos, com a participação de pescadores e pescadoras para troca e compartilhamento de saberes sobre pesca artesanal e a contribuições de cada território envolvido para essa prática. Além da restauração e estruturação de embarcações e da produção de uma tiragem de livro sobre a pesca artesanal, com versão em libras, vídeo e audiodescrição (audiolivro).

 Assistente de produção do Pescando Tradições, Milena Manhães destaca a importância do projeto: “a habilitação profissional permite que a atividade que os pecadores já realizam, que faz parte da cultura deles, seja reconhecida, formalizada e autorizada. Então, o curso é relevante porque leva a esse reconhecimento profissional e valorização do patrimônio e da cultura, da pesca artesanal. Além de ampliar a compreensão e a prática de como são as diferentes técnicas de pesca dentro da lagoa, permite troca de experiência de saberes com outros pescadores, quando falamos de um intercâmbio entre pescadores. Então, o Pescando Tradições tem um impacto para a sustentabilidade e cultura, porque quando a cultura e identidade são fortalecidas, gerando renda, proporcionam, também, mais pertencimento. Permitem que os pescadores atuem de maneira regularizada, com orgulho, com valor, estando reconhecidos pelo que eles são e pelo que eles fazem. E também do que veio da história desse território, da história dessas famílias, de comunidades de pesca, de avós, bisavós que também atuam dentro da pesca”.

 Pescador da Lagoa de Araruama, Francisco da Rocha, conhecido como Chico Pescador, diz que o projeto deu visibilidade à cultura da pesca artesanal na região dos lagos e também pontua a importância da pesca artesanal para a região: “a pesca artesanal é essencial para a Lagoa de Araruama, não só na questão da segurança alimentar, mas também na questão econômica. Só uma comunidade aqui da São Pedro da Aldeia, por exemplo, com 40 embarcações monitoradas, tem mais de 300 na lagoa, mas só essas 40 monitoradas durante um ano de pesca tiram cerca de 200 toneladas de pescado, envolvendo 1 milhão e 700 mil reais na comunidade. Então ela tem uma importância social, cultural e ambiental muito grande. É muito interessante a gente espelhar para o Brasil e o mundo essa tradição. Tradicionalidade, as artes de pesca e nós como remanescentes dos povos originários que passaram nessa região e que ainda utilizam a pesca como recurso econômico, social e cultural”.

 A Lagoa de Araruama, maior laguna hipersalina em estado permanente do mundo, é rica em biodiversidade. A vegetação privilegiada, sobretudo os manguezais, formam berçários naturais para diversas espécies, além disso, a imensidão lagunar proporciona fartura também para a pesca local. A Lagoa é um bem natural regional de grande relevância para o estado, para a pesca e o turismo, tendo associações e colônias pesqueiras que atuam somente nela. Passando por seis municípios da Região dos Lagos, Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio e Arraial do Cabo, a Lagoa de Araruama possui 220 km² e cerca de 630 milhões de m³ de água. 

 O intercâmbio será realizado ao longo de 10 dias, 5 na Costa Verde e 5 na região do projeto, visando a troca e compartilhamento de saberes sobre pesca artesanal e a contribuições de cada território envolvido para essa prática. Serão selecionados 10 pescadores e pescadoras da Costa Verde e mais 10 da região para comutar experiências e ampliar as perspectivas dos grupos envolvidos. No total, serão disponibilizadas duas embarcações, coletes salva vidas, boias circulares, rádios VHF marítimos, extintores de incêndio, kits primeiros de socorros, ombrelones, máscaras para mergulho e sinalizadores de emergência.

"Este projeto expande as nascentes da pesca artesanal lhe dando o devido valor patrimonial e conectando-a a oportunidade de negócios que favorecerão economicamente, culturalmente e socialmente os pescadores. O curso dá forma, o intercâmbio promove a troca e o livro registra e reverbera esta cultura tão rica. É uma ação 360º que estamos orgulhosos de fazer parte", afirma Priscila Seixas, presidente do Instituto Burburinho Cultural.

 Patrocinado pela Prolagos e Instituto Aegea, o projeto é realizado pelo Instituto Burburinho Cultural, a Vila Musical e a Associação dos Pescadores Artesanais e Amigos da Praia da Pitória (APAAPP), em São Pedro da Aldeia, em parceria com a Associação de Pescadores Artesanais do Parque das Garças Integrada (APESCARPEGIN), em Arraial do Cabo; Associação de Pescadores Artesanais de Monte Alto (APAMA), no distrito de Monte Alto; Associação dos Pescadores de Pesca de Correnteza, em Cabo Frio; Associação dos Pescadores da Praia da Baleia, em São Pedro da Aldeia; e a Colônia de Pescadores de Iguaba Grande.

 A pesca artesanal envolve conhecimento tradicional, práticas culturais e habilidades técnicas transmitidas nas comunidades de pescadores. Esse saber abrange desde a classificação dos peixes até as características do habitat aquático e técnicas de navegação. Os modos de vida dos pescadores são construídos pela tradição e experiência, tornando a apropriação do mar um ato cultural e produtivo. O segmento desempenha importância na proteção de ecossistemas marinhos e costeiros, por meio da sua abordagem sustentável e profundo conhecimento do ambiente. 

 O Instituto Burburinho Cultural é sediado no Rio de Janeiro e, há 19 anos, cria, produz e administra projetos culturais, com colaboradores por todo o país e fora do Brasil. Além do Pescando Tradições, realiza projetos como o Engenhoka, Criar Jogos, Futuro Queer, Arena Viva e Pro7eto Arco-Íris. Atuando em diversas cidades do país, o Instituto Burburinho vem articulando parcerias de sucesso e triangulando iniciativa privada, setor público e grandes ideias. A missão é proporcionar novas oportunidades para o público, com ética profissionalismo e transparência, impactando vidas, criando pontes entre diferentes setores da sociedade e promovendo a diversidade e a inclusão.

 A Vila Musical é um complexo de estúdios de música no Rio de Janeiro. Existe desde janeiro de 2005 e atua no Maracanã, Grajaú e Cosme Velho, onde ensaiam artistas como Maria Bethânia e Maria Rita. A Vila Musical é um marco na Zona Norte do Rio e no Cosme Velho, tendo participado desde então de grande parte do circuito de produção musical da região. Pela unidade do Grajaú, já passaram Arlindo Cruz, Ponto de Equilíbrio, Sergio Loroza, Bangalafumenga e Baby do Brasil. Nos últimos anos ampliou sua área de atuação, realizando projetos sociais com amparo nas leis de incentivo a cultura, levando música para jovens que buscam crescimento na música.

 A Associação dos Pescadores Artesanais e Amigos da Praia da Pitória (APAAPP) defende há 25 anos a pesca sustentável na Lagoa de Araruama. Começou a ser formada em 1996, sendo registrada apenas em 2001. Sua criação deveu-se a importância da conscientização com relação à necessidade de preservação ambiental e da constatação da queda drástica dos estoques de pescado na Lagoa de Araruama. A associação trabalha junto com outras entidades que defendem a lagoa na questão ambiental e ordenamento pesqueiro através do Comitê de Bacia Lagos São João.